sábado, 6 de setembro de 2008

Se Diomedes está por nós, quem estará contra nós?

Dia 30 de agosto encontrava-se em recife Lourenço Mutarelli, convidado para participar da semana de literatura promovida em recife. Dentre outras atividades, ele participou de um debate denominado Literatura Quadro a Quadro. Ao escutar minha namorada proferir tais palavras, foi quem me informou do evento, dediquei qualquer ação que poderia fazer no sábado dia 30 para viajar à Recife e ver em carne e osso, frente a frente um ídolo do quadrinho brasileiro, agora polivalente em termos de arte ( ator, escritor de livros e peças).
Preocupado com a chance de debater com ele, procurei informações alem das que já tinha, e foi assim que me deparei com a incongruência que me manteria travado até o encontro mor: uma afirmação dada em uma entrevista que encontrei no youtube (http://br.youtube.com/watch?v=CSrdfQrvNkM), na qual ele diz preferir ler livro a quadrinho pelo fato deste segundo ser repleto de imagens gritantes que impedem uma imersão na história, e depois complementa afirmando não ter orgulho ou vergonha de suas HQs, mas ter orgulho de algumas de suas obras literárias.
Pronto. Tudo escorre pelo ralo. Tudo que eu acreditava saber sobre Mutarelli desaparece, para dar lugar a perguntas martelantes: por que lutar pra publicar histórias em quadrinho então? Eu sabia que ele tinha parado de fazer quadrinho, mas por que um dia começou? O que o impulsionava a fazer quadrinho, o fato de desenhar? Porque não começar logo escrevendo livros? É muito mais fácil conseguir quem os publique do que suar a camisa pra publicar um gibi no Brasil. Eu não podia não esclarecer, e não tava com raiva, tava desnorteado, precisava entender o que quadrinho significava para aquele que me deu as melhores histórias de quadrinho brasileiras pra ler, fora do contexto das tirinhas.

15:30. Lá estava eu na hora do debate aguardando, não tão ansioso por ter minha atenção roubada pela prateleira de quadrinhos da Cultura. A silhueta dele com sua família não passou desatenta e postei-me na sala de debate a aguardar.

Começou o debate. Não entendi ao certo quais eram as intenções do debate (vai ver era porque eu esperava outra coisa ou o mediador não explicou direito), os três convidados foram apresentados com certa dificuldade pelo cara que mediou, dando espaço para estes concluírem suas apresentações. O ultimo apresentado sem saber o que falar falou demais e se perdeu levando todo o debate junto com ele, o que levou mais da metade do tempo programado. Até então Mutarelli calado estava calado continuara, quando alguém tentou trazê-lo para o debate, e este elegantemente cortou a todos esclarecendo que o debate que estava sendo feito era inútil e ele não estava ali para perde tempo com aquilo.


Debate encerrado o mediador abriu para perguntas do público, foi onde entrei: “vi uma entrevista onde você afirma não se orgulho ou se envergonhar de suas obras em quadrinho, mas se orgulha de algumas publicações literárias. Eu queria saber qual o seu relacionamento com quadrinhos, já que você lutou tanto pra ter tantas publicações nos quadrinhos?”

Ele disse que entende que isso deve ser esclarecido e que deveria estar escrevendo quadrinho ainda em respeito a seus fãs, mas a questão era outra. Não era nem o fato dele ter sofrido muito com as tentativas de publicação de quadrinho e estar bem melhor na literatura, mas a questão com os quadrinhos tinham sido atingidas no âmago, uma das fontes que o impulsionavam a fazer quadrinho havia sido perdida (Diomedes que não me deixa mentir) seu pai havia morrido. Foi nesse momento em que todos os meus princípios quiseram se enterrar junto comigo por ter duvidado de qualquer que fosse ou o que fosse que Lourenço tivesse com histórias em quadrinho.

Ele comentou sobre o personagem Diomedes e a relação deste com o seu pai, e a dele também quando via seu pai lendo as estórias desse personagem em sua mesa de desenho. Tudo remeteu um texto que tem na soma de tudo onde ele destrincha esse fato e o prazer que sentia em ver seu velho se divertindo com seu “retrato”.

Mutarelli esclareceu que após tal fato ele não consegue mais ler ou fazer quadrinhos, ele assumiu ter comprado gibis que almejara há muito tempo e ainda não os leu. Outro sonho, o de ir a Comic-Con, passou a ser uma trava, ele teve a oportunidade de ir, mas não teve condições, ele afirma ter que ir deixar um gibi para um amigo que la se encontrava e completa dizendo que não conseguiu nem entrar, encontrou o amigo na frente e foi embora.

Mais compreensível impossível, se não até plausível. Mutarelli mesmo odiando quadrinho teria um lugar especial em minha estante pelas obras feitas, mas seu lugar agora é mais que questionável: será que ele deve estar misturado ali? Se bem que meus gibis de Lourenço Mutarelli estão em uma caixa à parte, assim com Eisner tem a dele, Moore e o que presta de Miller também.

Agora o que resta é me orgulhar do que tenho deste quadrinísta brasileiro, do contato que tive com ele e aguardar, rezar, fazer trabalhos, em suma ter fé num retorno deste a maravilhosa nona arte.